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PROG realiza roda de conversa com Andriele Muri sobre sua tese “Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do Pisa”

A Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), por meio da Pró-Reitoria de Graduação (PROG), realizou, na manhã do dia 26 de março, uma roda de conversa sobre “Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do Pisa”, com a Prof. Dra. Andriele Ferreira Muri Leite, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

A professora Andriele Muri ganhou o Prêmio CAPES de Tese 2018 da área de Educação por sua tese de doutorado homônima, defendida em 2017 na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Na roda de conversa, o objetivo foi apresentar os resultados de sua tese e dividir com a comunidade docente da UEMA um pouco do conceito de letramento científico, novas metodologias e o que se pode fazer para melhorar a educação do país.

“Eu acredito em uma educação que transforma e liberta. Então, que as mordaças caiam e que a gente forme pessoas com pensamento crítico e que vão mudar alguma coisa nessa sociedade que a gente está”, disse a professora.

De acordo com a pró-reitora de Graduação Zafira da Silva de Ameida, a tese desenvolvida pela professora Andriele tem um respaldo muito grande, por ter sido premiada duas vezes pela Capes, na área de Educação e com o Grande Prêmio CAPES de Tese 2018 na área de Ciência Sociais.

“Por isso, a gente quer aprender um pouco sobre essa experiência em ciência como um instrumento para melhorar a qualidade de ensino, tanto no fundamental, quanto na graduação, e isso pode ser muito importante para a gente avançar aqui na UEMA, até dentro das possibilidades na nossa Escola de Aplicação, onde ações de licenciaturas e projetos de extensão e pesquisa podem ser desenvolvidos, e quem sabe seja uma interessante proposta para esse nosso laboratório vivo, que é o Centro de Ensino Médio Paulo VI”, afirmou a pró-reitora.

A tese compara o Letramento Científico no Brasil e no Japão a partir dos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), de 2006 e 2015, e buscou responder as seguintes as questões de pesquisa:

1- Há diferenças de competência cognitiva em Ciências entre os alunos brasileiros e dos outros países, sobretudo os do Japão no PISA?; 2- Existem itens do PISA 2006 que apresentam comportamento diferencial, tendo o Brasil como referência?; 3- É possível, a partir dos dados do PISA e da adoção complementar de uma abordagem qualitativa, identificar diferentes ênfases curriculares e/ou práticas pedagógicas no Ensino de Ciências de Brasil e Japão que contribuam para a compreensão das diferenças de desempenho entre seus estudantes?

Os resultados da tese mostram que mais de 20% do tempo oficial de aula observados no Brasil são desperdiçados com questões outras que não o ensino efetivo de Ciências, dez vezes mais que no Japão. No Brasil, há ênfase curricular mais acentuada nas Ciências Naturais e Biológicas.

Em entrevistas com especialistas em Ensino de Ciências e gestoras do PISA, de ambos os países, apresenta-se que o sucesso do Japão nessa avaliação é associado à existência de um currículo nacional comum e à formação continuada de professores em serviço, bem como às reformas do sistema educacional japonês suscitadas pelos resultados do PISA.

Além disso, o baixo desempenho dos estudantes brasileiros no PISA estaria relacionado com o despreparo dos estudantes, com a falta de familiaridade destes com o teste, com a deficiente formação dos professores e com o limitado uso das evidências produzidas pelas avaliações em larga escala.

A professa conclui a teste expondo a necessidade de melhorar o ensino básico no Brasil, em particular, o Ensino de Ciências, que deve ser encarada com mais veemência. “Afinal, o ensino adequado de Ciências estimula o raciocínio lógico e a curiosidade, ajuda a formar cidadãos mais aptos a enfrentar os desafios da sociedade contemporânea e fortalece a democracia, dando à população, em geral, melhores condições para participar dos debates cada vez mais comuns sobre temas científicos que afetam nosso cotidiano”, afirmou.

Andriele explicou o motivo de ter escolhido o Japão para a pesquisa. Antes de ela ir pela primeira vez ao país, em 2007, para fazer um programa de treinamento para professores, ela era voltada para a Biologia, especificamente, biologia de anfíbios, mas voltando do país asiático ela diz que retornou com a cabeça voltada para a educação de ciências. “A minha experiência no Japão me fez repensar minha prática sobre muitas coisas. Por isso, eu resolvi fazer outro mestrado, agora na área de educação”.

Já com um mestrado e um doutorado em Educação, Andriele sempre desejou fazer um estudo comparativo entre Brasil e Japão, mesmo sabendo que são duas realidades completamente diferentes. “Eu acredito e defendo que eles (os japoneses) possuem experiências que podem ser, não digo adaptadas, mas, pelo menos, observadas com olhos mais abertos para coisas que realmente funcionam. O ensino do Japão é muito bom e tem muita coisa que a gente pode aprender de lá, afinal, ciência e tecnologia definem o desenvolvimento de um país”, esclareceu.

Além do doutorado na PUC-Rio, Andriele Muri fez doutorado sanduíche na Universidade Gakugei de Tóquio, durante 8 meses, onde antes já havia sido bolsista MONBUSHO no Teacher Training Program (2007/2009). Atualmente, é docente do Departamento de Educação do Campo UNIR. É autora do livro “A Formação Científica no Brasil e o PISA” e suas pesquisas situam-se nos campos da Educação e do Ensino de Ciências, com ênfase em Avaliação de Sistemas e Programas Educacionais, Avaliação Internacional Comparada e Desigualdades Educacionais.

A tese na íntegra está disponível no aqui.

Sobre o PISA

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos  é uma avaliação internacional que mede o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de Leitura, Matemática e Ciências. O exame é realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), entidade formada por governos de 30 países que têm como princípios a democracia e a economia de mercado. Países não membros da OCDE também podem participar do Pisa, como é o caso do Brasil, convidado pela terceira vez consecutiva. O objetivo principal do Pisa é produzir indicadores que contribuam, dentro e fora dos países participantes, para a discussão da qualidade da educação básica e que possam subsidiar políticas nacionais de melhoria da educação.

Texto e fotos Por: Raysa Guimarães

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